sexta-feira, 25 de junho de 2010

Dificuldades de aprendizagem... o que o EU tenho a ver com isto?

(Abordagem psicanalítica)

Este trabalho que apresento são reflexões e hipóteses, observações e realizações no meu contexto profissional. Creio que nenhum estudo surja do acaso, mas sim de algumas das experiências vividas no cotidiano.

Algumas crianças ao entrarem na escola deparam-se com maiores exigências na área cognitiva, e elas começam a apresentar muitas dificuldades na aprendizagem. Muitos destes alunos já estão no processo de ensino-aprendizagem a mais de seis anos e não conseguem consolidar a alfabetização. Sem causa neurológica ou orgânica aparente estes estudantes são alvos de preocupações da família, dos educadores e da sociedade, que estão sempre em buscar de soluções a fim de superar dificuldades escolares, sem ao menos questionar, qual a verdadeira implicação do próprio aluno, nesse processo ensino- aprendizagem.

Começo por relatar um caso que, parece-me oportuno comentar:

Um menino de oito anos de idade, cursando a primeira série do ensino fundamental, apresentava dificuldades de leitura e escrita. Após dois anos mais ou menos de escolarização ele estava despertando o saber, "o saber insabido". Saber este; que de alguma maneira inconsciente, este aluno estava pretendendo evitar.

Este menino morava num bairro de periferia de um município: que por sua vez ficava distante da grande São Paulo, contudo certo dia ele "fugiu" da escola e foi passear em outro município. Houve grande mobilização, a policia foi acionada, enfim...O menino retornou para casa e os pais foram convocados a escola ". Ao ser questionado sobre o motivo de sua fuga. O menino argumentou":

"Agora eu já sei ler o nome do ônibus !".

O pai do garoto ficou impactado, com essa resposta, associou e culpabilizou a aquisição da leitura, neste episódio de fuga, pois antes ele se posicionava passivo, atendendo de algum modo a expectativa da família, pois a mesma agia com pouca afetividade e descrédito, denotando e sustentando a crença que o fato de aprender, representaria algo perigoso e por isto teria que ser rejeitado.

A minha primeira reflexão : - Qual a implicação do Eu de cada individuo, em toda esta dinâmica de aprendizagem? O que cabe ao Eu consciente e inconsciente?

A psicologia explica o Eu como um conjunto de pensamentos, sentimentos e ações tudo integrado, que faz com que o individuo tem conhecimento de si próprio.

De acordo com a psicanálise o Eu é a maneira como o individuo reage a si próprio, o que a pessoa pensa de si, como se avalia e como tenta valorizar-se ou defender-se.

Para algumas crianças, o indicio de vivenciar uma situação de conflito, as ajuda a aprender algumas coisas que não aprenderiam se não tivessem essa oportunidade. Outras vezes, a aprendizagem se dá diante das variedades de alternativas que o aprendiz tem para escolher com o que e como vai se comprometer. Estes conhecimentos estão incorporados nos seus desejos pessoais.

Diante destas variedades de alternativas a escola se apresenta como articuladora de conhecimentos e utilizam-se teorias para explicar o conhecimento, tamanho é o grau de inquietação dos educadores e familiares.

A vertente, empirista, parte do princípio de que o conhecimento está fora do sujeito e que aprender é pô-lo para dentro através dos sentidos, do ensino e da experiência, é o ambiente que permite o aprendizado, que garante o conhecimento e se constitui no elemento mais importante no processo de aprendizagem.

A vertente epistemológica trata a aprendizagem como um processo de dentro para fora, quase de iluminação.

O construtivismo diz que existe um sujeito que conhece, e que o conhecimento é alguma coisa que se constrói pela ação desse sujeito. E que o ambiente tem papel muito forte nesse processo.

Para a psicanálise, dar importância à significação é uma aprendizagem. Vivemos num mundo de muitos significados, no qual uma palavra pode ser interpretada de muitas maneiras, a ponto de ser possível à distorção da idéia inicial.

Exemplo:- um aluno catorze anos de idade, como baixo desempenho na área da leitura e escrita, comenta com a professora, que sua mãe falou que tão logo ele aprendesse ler, ele iria estudar em outro Estado, (numa faculdade pública) ficaria longe da mãe. Como sintomas este aluno enfrentaria sérias dificuldades, não apenas acadêmicas, mais também na adaptação social, negando-se a aprender, como que o fato de aprender significaria o perigo de mudar de cidade, e não poder contar mais com a presença protetora de sua mãe. Freqüentando uma sala para alunos com diagnostico de deficiência mental. Este aluno continuava na posição de incapaz de saber...recusando a crescer, a desenvolver-se, pois externava atitudes infantilizadas, com variabilidade de humor, emotividade excessiva, perante o grupo, apontando conflitos internos que interferiam na sua aprendizagem.

Conclui-se que há uma equivalência no que o sujeito diz, e no que ele faz, e, a linguagem é o tesouro do significante. Uma criança que apresenta dificuldade de aprendizagem, está dizendo algo, é importante tomar os signos como sintomas do inconsciente. Há um consenso por parte da grande maioria dos educadores que; nada justificaria os motivos da não aquisição da leitura e escrita das crianças na idade escolar, pois acreditam que este sistema de escolarização é algo essencial para a vida de uma criança, e seria quase que inadmissível e inconcebível, este aluno não se comprometer com o saber escolar, intencionalmente. Estes educadores não consideraram, que, os motivos para não- aprendizagem também são válidos para estes alunos.

Segundo Freud, "somos herdeiros das primeiras relações de nossos pais", a crianças só aprende ler, quando há a castração, quando a lei opera, o declínio da função paterna e a fragilidade do lugar de autoridade se traduzem, simbolizam, no escolar, nos transtornos ligados á aprendizagem.

No inicio da vida a criança, não tem noção de seu próprio corpo, de seu (eu), á medida que ela vai desenvolvendo, vai percebendo e distinguindo, pessoas e objetos que os cercam, deste modo irão sendo produzidas as primeiras imagens, que podem ser ocupados, por pessoas, ocupada na primeira figura do grande Outro primordial; especialmente a mãe que freqüentemente está em contato com ela. O bebê não existiria sem o olhar do cuidador. Quando ele quer alguma coisa ele passa primeiro pelo olhar do Outro.

Exemplo: O bebê grita, a mãe transforma este grito, num apelo é como estivesse dizendo: -Este grito significa que você está me chamado, pois você deve estar com fome. O bebê rapidamente aprende que aquele grito pode ter valor de linguagem, valor de apelo, que produz um efeito de gozo, recíproco. Esse agente materno neste momento, estabelece uma demanda, e o bebê por sua vez participa em relação ao outro. Esta relação não é linear, varia dependendo o grau de proteção desta família. Existe família em que qualquer traço de autonomia da criança considera ameaçador.

Após alguns tempos, a criança vai tomando conhecimento de sua própria existência, e vai começando a estruturar, e os pais vão sempre mostrando de forma consciente ou inconsciente valores e comportamentos, do que é certo ou errado, bom ou mal etc, e essas marcas que são impressas na infância, são organizadas e seguem certas lógicas permitindo que o sujeito vá se estruturando no seu meio familiar, física e psicologicamente, desde o nascimento, até a puberdade, construindo e constituindo sintomas. pois o desenvolvimento moral, não garante a constituição existencial do sujeito

As dificuldades com a aprendizagem podem decorrer de diversas causas, e os sintomas que aparecem, quase sempre, estão ligados ao uso do instrumental simbólico.

Às vezes, não são dificuldades que se localizam dentro de um sujeito, e sim na relação entre ele e o conhecimento ou entre ele e aqueles que ensinam.

Muitas vezes, estas dificuldades interferem de tais formas na vida de uma pessoa que freqüentemente elas são confundidas e rotuladas como crianças deficientes mentais, inábeis, incapacitadas etc. autenticando a cumplicidade por parte da sociedade, neste processo; o aluno escolhe por não aprender, e pais e educadores, optam por não ensinar; instituindo a aprendizagem em círculos viciosos.

Freud descobriu que toda a formação do inconsciente transmite uma mensagem que é dirigida ao grande outro. Há um risco em aprender ou deixar de aprender. O que eles estão fazendo em relação ao que estão dizendo?.. A angustia de crescer, o medo de falhar, muitas vezes não estão ligadas à falta de condições cognitivas para aprender.

O que o Eu tenho a ver com o des envolvimento (Dês envolvimento) no processo de aprendizagem escolar?

Há escolhas a serem feitas, existem, comprometimentos, recusas, opções etc.

Não são questões puramente objetivas. Há uma idéia da linguagem, do significante que passa pela letra do discurso. E que só desequilibrando o sujeito e provocando uma mobilização interna diante das situações novas, fará com que o sujeito se implique e requeiram mudanças de atitudes.

Jacira Maria Moura Pereira Lacerda
Pedagoga, Habilitada em Educação Especial
Estudante de psicanálise no Instituto Tempos Modernos (2003)

Para descontrair...


sexta-feira, 18 de junho de 2010

A Psicanálise e a Subversão da Filosofia

por Lucas Nápoli

philosQual a razão de ser do conhecimento que se autodenomina filosófico? Isto é, por que a filosofia existe? Certamente essa pergunta não deve ser respondida de qualquer maneira, mas uma visada periférica da história da filosofia (leia-se a história do que homens que se intitularam ou foram chamados de filósofos disseram) mostra que a função da Filosofia geralmente foi vista como sendo a da procura da verdade.

Que essa verdade tenha tido diversos lugares conforme as idéias de cada autor – no ser em Kierkegaard, no mundo externo em Locke, na razão em Descartes – isso é o de menos. Mais importante é pensar que, se a filosofia toma como mote de sua própria existência o problema da verdade, isso significa que o pensamento humano – e aqui me refiro especificamente à tradição ocidental – amiúde considerou que a questão humana por excelência seria “o que é?”. Com efeito, a busca da verdade é a procura daquilo que é, em todo lugar, em todo o tempo, que sempre será e que nunca deixará de ser.

Ora, o que a psicanálise evidencia é que essa pergunta mascara uma outra, muito mais fundamental e que poderia ser formulada, toscamente, nos seguintes termos: “Por que sou?” ou “Por que existo?”.

Tais indagações possuem basicamente duas respostas possíveis: ou pensamos que nossa existência se deve ao puro acaso, pelo arranjo de contingências sem nenhuma finalidade específica ou cogitamos a hipótese de que existimos por alguma razão que invariavelmente não se encontra explícita. Considerando que essa última opção é a adotada por 99,9% dos exemplares do Homo sapiens – por mais que um Darwin insista o contrário – pode-se dizer que a questão da razão de nossa existência carrega em seu bojo uma outra, qual seja, “O que isso quer de mim?”

Sim, pois se não estou aqui por acaso significa que estou aqui por conta de um desejo. Mas se sou um ser que, diferentemente de uma pedra, além de ser, faz, isso significa que esse desejo do qual fui fruto, além da minha existência demanda que eu aja de determinada maneira.

"Minha consciência é inconsciente de si mesma, por isso me obedeço cegamente."
Clarice Lispector
Bom! Boa tarde a todos;

Como tudo na vida é um espetáculo, estamos iniciando mais um, e esperamos que este espetáculo chamado "PENSANDO SOBRE O INCONCIENTE", possa ser um espetáculo inesquecível para aqueles que pensam entreFilosofia e Psicanálise. (Alexon)

Há! Saudade - É um protesto do EU em não aceitar o nada do TÚ. Alexon